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Um Outro Olhar 

Outros textos:

Nº 1

 

 

Este é o primeiro texto que partilhamos no âmbito deste projeto:

 

José Luís Peixoto nasceu a 4 de Setembro de 1974, numa aldeia do Alto Alentejo chamada Galveias. Estudou na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e, após a licenciatura em Línguas e Literatura Moderna, foi professor em várias escolas portuguesas e em Cabo Verde, na Cidade da Praia.Em 2001 dedicou se profissionalmente à escrita.

A primeira vez que ouvi falar deste escritor foi através dos Moonspell, uma banda portuguesa de Metal/Gótico, pela qual tenho admiração e respeito. Ouvi falar dele por este se ter juntado a um projeto dos Moonspell, com o livro “Antidoto” e o álbum “The Antidote”. Esta relação despertou-me a atenção e comecei a pesquisar sobre ele.

 

O facto deste escritor ter praticamente a mesma idade que eu, levou-me a comprar o primeiro livro dele “Abraço” este livro, que fala da sua infância e da sua adolescência, fez-me recordar e rever-me em muitas das situações lá descritas. Apesar de termos crescido em sítios bastante diferentes, reconheci-me na sua escrita, nos seus gostos, na forma de vestir e de estar.

Aventurei-me então, e comprei um novo livro “Cemitério de pianos”. Este livro trata a história de 3 gerações da família Lázaro. No início, a história deixa-nos um bocado confusos porque ambos os narradores se chamam Francisco Lázaro e as suas historias entrelaçam-se muitas das vezes, sem deixar claro de qual dos Franciscos se está a falar. As narrativas vão-se desenrolando na oficina do pai, que era carpinteiro, bem como o filho que partilhava a mesma profissão. Pelo meio, vai-nos descrevendo quilómetro a quilómetro, a última corrida do maratonista Francisco Lázaro (o filho) que desfaleceu no 29º Km da prova, nos jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912. Com o desenrolar da leitura começamos a perceber a relação entre os Franciscos e a própria maratona. Nesta história percebemos que o filho do Francisco (neto do primeiro Francisco) nasce no dia em que o pai morre, após a maratona.

 

É uma história triste e alegre, que nos fala das relações entre as famílias, da violência

doméstica, mas que também celebra a vida e a continuidade das gerações. Grande parte

da ação desenrola-se na oficina de carpintaria, cheia de pianos velhos e à mesa, onde

as várias gerações se reúnem.

Foi um livro que me deixou bastante confusa pelo enredo das diferentes gerações que

se entrelaçam mas, no fim, todas as peças se encaixaram no complexo puzzle que é a ação

deste livro.

Depois deste livro comprei “Uma casa na escuridão”. Confesso que não estava preparada para o ler. É uma história sobre um escritor e, logo no início, ficamos a saber que o pai dele já tinha falecido e que mãe que se encontra ausente deste mundo, sem qualquer vontade de viver. Ela tem uma escrava que trata dela. Depois, o narrador conta-nos como se apaixona por uma mulher que vê apenas quando fecha os olhos, e com a qual comunica através da escrita. Tudo começa a mudar quando um amigo de infância que se encontrava fora, volta e vai ter com ele. A mãe, entretanto, descobre a música e começa a recuperar a vontade de viver. Quando pensamos que a história tem tudo para ter um final feliz, a casa dele é invadida por soldados, que mutilam todos os habitantes da mesma e passam a dominar tanto a casa como os seus habitantes. A partir desse instante começam as descrições do horror. Em cenários dantescos, com personagens esventradas e completamente mutiladas, submissas aos soldados que invadiram a casa, com relatos de violações e abusos e, ao mesmo tempo, demonstrando o companheirismo entre os sobreviventes e a ajuda de quem nada pode fazer, senão estar presente para apoiar, para dar o ombro para chorar. A crueldade descrita com palavras, que apesar de serem belas, remetem-nos para uma realidade desagradável, que nos choca e nos maravilha ao mesmo tempo. Quando estamos a acabar o livro e pensamos que toda a violência já terminou, uma revelação chocante deixa-nos quase sem palavras, de coração partido e sem saber como reagir.

                             Este livro mexeu bastante comigo. Pela beleza e pela violência, deixou-me revoltada ao ponto                                de andar semanas sem o conseguir tirar do pensamento. Eu, que sou uma leitora assídua, lendo                              em média cerca de quatro livros por mês, fiquei cerca de três meses sem conseguir voltar a ler.                             Este romance foi incluído na edição europeia de "1001 Livros para Ler Antes de Morrer - Um                                    guia cronológico dos mais importantes romances de todos os tempos".

 

Depois de ter arranjado coragem, talvez um ou dois anos depois, li o livro “Nenhum Olhar” que foi incluído na lista do Financial Times como um dos melhores romances publicados em Inglaterra em 2007, tendo também sido incluído no programa Discover Great New Writers, das livrarias americanas Barnes & Noble..

 

Este livro retrata vários personagens fictícios de uma aldeia e da facilidade com que as vidas destes se cruzam e se misturam. Fala-nos ainda da importância do olhar, da ausência do mesmo e ainda de como vemos aqueles que nos rodeiam. O mundo acaba quando não há nenhum olhar. É uma história simples, com momentos divertidos, outros tristes, com personagens estranhas e situações bizarras.

 

Já tenho na minha prateleira mais um livro deste autor, que ainda não li, “O Caminho imperfeito”. Sinto sempre que preciso de me preparar para ler mais um livro de José Luís Peixoto. Mesmo assim, nem sempre estou preparada para o que vou encontrar. O escritor coloca sentimento em cada palavra, repetindo-a por vezes até à exaustão, para que o leitor tenha consciência da sua importância. É sempre uma aventura mas a beleza das suas palavras e da sua escrita acaba por nos impelir para o ler mais e mais....

 

Sandra Moás

(Candidata certificada em Processo RVCC)

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Publicado a 25.01.2019 - Reedit a 11.03.2021

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